31 de agosto de 2010

liberdade.


semana passada, assistindo ao programa eleitoral, uma candidata à presidência discorria sobre um de seus planos, quando ouvi a frase "liberdade para sonhar". falando assim, até se pensa "ah, todo mundo tem sonhos" ou "uma hora ou outra os sonhos se realizam", mas creio não ser tão simples assim. relatarei algumas experiências, vivenciadas por mim, que mais me mostram como sonhar é bom e como melhor ainda é a tentativa tornar isso real.
estávamos sentados na calçada, uns colegas e eu, ao fim de uma tarde de feijoada. no primeiro período do curso na universidade, poucos são realmente convictos do que querem. então, enquanto discutíamos sobre o futuro, resolvi perguntar se aquilo era uma vontade antiga, ou se eram novos planos.
- mas o que queriam ser quando criança? aquela vontade mais inocente, mesmo. eu queria ser jogador de futebol [não tardou muito para que eu descobrisse que não tenho habilidade suficiente para isso...] ou fotógrafo. e vocês?
- eu queria ser caminhoneiro, como meu pai.
- eu queria ser fazendeiro. não pelo dinheiro, mas pela vontade de criar uns bois, ter um trator, uma terra para plantar, sabe?
- ah, pois eu queria mesmo era ser bailarina. até fiz balé por um tempo, mas...
- cara, eu sonhava em ter uma bicicleta e ser um ciclista profissional.
[...] assim, a nostalgia "sentou" conosco por um tempo, mas não tardou a ser substituída pela lembrança de que tínhamos um trabalho a fazer e entregar após o fim de semana.
infelizmente, creio que a maioria pensa nisso apenas como sonho de criança. de fato, acabamos por ser instruídos a pensar que isso não faz parte da 'regra' da atual vida comum: nascer, estudar [a partir dos dois anos de idade até passar num concurso], trabalhar [de preferência como funcionário público], casar [ou não], ter filhos [no máximo dois], se aposentar e morrer. não estou sugerindo que de nada valha o esforço em estudar [longe disso!]; o que não vale a pena é limitarmo-nos a uma "vidinha" na qual deixamos de lado nossas verdadeiras satisfações; tenho como exemplo um conhecido meu, que passou a infância e a adolescência fascinado por aviação, louco por jogos e maquetes originais de aviões, bastante inteligente para ser um ótimo piloto e há algum tempo se formou em direito [e provavelmente será bem sucedido], talvez para não decepcionar os pais. posso estar enganado a respeito disso, entretanto um dia espero vê-lo pilotando um f-23 [hehe!].
[...] hoje, o toque do celular me acordou; e não foi o despertador. "que estranho o papai me ligar tão cedo", pensei antes de atender. não foi difícil perceber a voz emocionada, que logo disse: "jethro, a mamãe passou!". desde que me entendo por gente [ou algo parecido a isso], ouço minha mãe dizer que ainda teria o carro dela, para deixar de depender do meu pai, nisso. quando minha irmã e eu já podíamos "nos virar" melhor, há uns dez anos, minha mãe voltou a estudar. foi meio complicado para todos nós, porém ela persistiu, se especializou, conseguiu um emprego bacana e, depois de tanto empurrar carro "no prego", fez um sacrifício e comprou um carro, no ano passado, e resolveu tirar a habilitação. depois de reprovar algumas vezes na 'temida' baliza, não desistiu e hoje foi aprovada. "consegui, filhão!", disse, quase chorando [a senhora não disfarçou bem, mãe]. meu orgulho por ela ultrapassa os 100%.
apesar de ser uma banalidade para muitos, era o sonho dela. a determinação dela me motiva a buscar o que realmente quero, mesmo que o que faço agora seja um trampolim que me ajude a alcançar isso.
por mais que aos olhos dos outros seja uma bobagem, ainda que seja para auto-realização ou para "entrar para a história", como na tirinha acima, sonhe! e batalhe para que se torne real. se deixarmos de sonhar, nos tornaremos seres estressados, insatisfeitos e presos à rotina.

"perceber aquilo que se tem de bom no viver é um dom..." _ liberdade, marcelo camelo.